sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Sorvete que te quero



Ninguém mais toma sorvete. Você já reparou? Não estou falando de picolé de frutas ou de qualquer coisa light que inventaram pra atender às necessidades neuróticas das pessoas. Estou falando daquele sorvete que você não conseguiu resistir só de pensar. Com calda, cobertura, marshmellow, castanha, confete, duas, três, quatro bolas - uma de cada sabor. Ou então, daquele picolé de chocolate, de trufa, com recheio, que congela os lábios, a língua e o cérebro. A verdade é que o encanto, ansiedade, entusiasmo e incomparável felicidade que você um dia sentiu quando lhe prometeram um sorvete, hoje não te desnorteia. Hoje, o sorvete é sobremesa proibida. Quando crianças, a gente se lambuzava, melava a mão, a boca e a roupa. Quando crianças, não nos preocupávamos se estava muito cedo ou muito tarde para chupar um picolé ou encher aqueles potes com bolas de massa. É engraçado como podemos ver nos olhos de uma criança o desejo, ver sua boca encher d’água só de pensar em tomar aquele sorvete. A criança come com vontade, com prazer. Come como se fosse o último do mundo. O valor e importância de tomar um sorvete tornaram-se obsoletos. O valor e importância de saciar uma vontade são indiscutíveis, porém, negadas. Talvez o sorvete não seja a questão. Ele continua lá, gelado, molhado, com cobertura, sem cobertura, com castanha, sem confete, com calda quente, com calda fria, com granulado. Muitos sabores ainda são os mesmo: flocos, morango, chocolate, creme. O que mudou foram seus olhos. Você não enxerga o sorvete da mesma forma. Você não saliva quando pensa na sobremesa. Você não arranja qualquer desculpa para parar em uma padaria ou sorveteria. E mesmo que arranje, você não sente a necessidade do sorvete. Você sacia a vontade com outra coisa. Você não sonha com o sorvete que vai tomar no parque, na praia. Você já não fecha mais os olhos quando dá a primeira mordida. Você cresceu. Você deixou a sua criança tomando sorvete no seu passado e na sua memória. Esqueceu de trazê-la com você. Então hoje, só hoje, tome um sorvete. Não um picolé de frutas ou um light. Tome um sorvete. Com tudo que tem direito. Sinta sua boca salivar, sua garganta secar. E feche os olhos na primeira colherada. Pois hoje, e só hoje, você pode voltar a ser criança.

6 comentários:

Mohamad disse...

mto legal o texto, ctz q hj eu vou tomar um sorvete acho q lah no rocinha mesmo hehe... vamos??? bjao...

Anônimo disse...

hahahaha.... engraçado o seu post, combinou muito com o q fiz! Pq eu tomei soverte no parque, no dia das criança(ontem)... e foi MUITO BOM!
Talvez, sem perceber eu me dei o direito de ser criança outra vez...
Senti um prazer enorme ao fazer isso!!
Mas pq só no dia das crinças???
Devemos nos deliciar com sorvete todos os dias!!!!!

Unknown disse...

Hummmm... que vontade!!!!
Quero ir também !!! O texto é muito convidativo e interessante...
e a escritora, mais do que ninguém, sabe que o tema mexe com a mais profunda das minhas tentações!!!....hahaha...
Muito legal! :}

Marina De Marco disse...

Deza, hello!

delicia de texto...tb quero um sorvete!
..mas respeitando ou nao as vontades da crianca dentro de cada uma de nos (I'm gonna speak for all ladies here)..
com a idade, o meu calculo de calorias acaba sendo mais intenso do que qualquer vontade por um farofino!..
I want to want ice cream! I don't want calorie math to ruin my appetite like hair in your food!
..well, but I think it's a work in progress, posso ir construindo o sorvete da infancia aos poucos..primeiro uma bola, depois duas, depois calda...yeah..that could work.. e quando eu chegar ai em dezembro we can go for the real thing! Something wild like a banana split...and it's going to be summer..mmm..stupendo!

Anônimo disse...

Eu nunca parei de tomar sorvete! Hahaha. Sério. Eu adoro!

Unknown disse...

Deza, muito bom o texto, como todos q li.
Nunca deixei de tomar sorvete. Para mim, toda hora é hora. Mas deixei minha criança de lado já faz muito tempo, são poucos os momentos em que ela aparece.
Nem sei se algum dia ela realmente existiu.
bjo