quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Enquanto isso, no Brasil... Quem acendeu a luz?

No dia 10 de novembro, por volta das 22h, as luzes do Brasil se apagaram. O breu se instalou sobre a maioria dos Estados e não se via nada. Os geradores suportariam somente até certo horário e, então, viraria escuridão total. Ninguém sabia explicar o que ocorria. Estávamos incomunicáveis: sem telefone e sem internet. Algumas pessoas se mantinham informados através de conexões móveis, mas isso também não sobreviveu ao blecaute. Os boatos sobre o que havia causado o apagão começaram: era o tão esperado “fim do mundo”, ou um provável golpe de Fernandinho Beira-Mar ou, ate mesmo, invasões alienígenas - meu favorito. Nenhum era verdade e a vida continuou normalmente. Mas durante o crepúsculo, eu passei por experiências únicas. Assim que caiu a eletricidade, reuni as velas espalhadas pelo apartamento e fui buscar os fósforos, que, para a minha surpresa, nunca encontrei. Não achei um mísero palito ou isqueiro. E lá fiquei, no escuro. Nada de lanternas ou lampiões. A bateria do meu celular já estava quase no fim e não vi alternativa além de ir dormir.

Pegar no sono não foi fácil. As pessoas na rua estavam animadíssimas com a brincadeira, e a gritaria, mesmo do 12º andar, ressoava em alto e bom som. Apesar da escuridão, a noite estava clara, e iluminava todo o meu quarto. Olhando fixamente para o teto, mil pensamentos invadiam a minha mente inquieta. Um deles foi o caso da menina da Universidade Bandeirante que sofreu uma humilhação bárbara dentro da própria faculdade por ter ido à aula usando um vestido (realmente) muito curto. Essa “ousadia” atiçou uma exagerada revolta entre os alunos, que ofenderam a jovem de forma cruel e violenta. A repercussão foi tanta que minha mente remói o caso até durante o apagão.


Naquela noite, me agarrei a qualquer pensamento para fugir de uma saudade. Na verdade, me esquivo dessa sensação há semanas. Mas sem sono e numa escuridão convidativa, não tive para onde ir. Estava sozinha com meus pensamentos e emoções. Resolvi me entregar à onda de sensações que, sem a minha autorização, já invadiam e afogavam o meu corpo. A saudade, à qual me refiro, é de um grande homem que, num piscar de olhos, saiu do meu campo de visão e instalou-se unicamente em meu coração. Mesmo na escuridão, consegui ver seu sorriso, sentir o conforto de seu colo e o calor de seu abraço. Suas palavras, nunca omissas, ecoavam mais alto do que a gritaria lá fora. Falo de meu pai, de uma dolorosa perda, recente demais para apreender. As infinitas horas sem luz reacenderam a minha alegria e iluminaram a minha alma. Pude apreciar as memórias boas sem o amargo das últimas recordações. Reorganizei os meus pensamentos e assumi a responsabilidade de ser um pouco mais parecida com uma pessoa que proporcionou nada menos que gargalhadas e trouxe imensa paz aos outros.


As luzes de São Paulo voltaram ao normal antes do dia amanhecer. Eu, porém, passei a noite em claro, iluminada por uma luz inexplicável. Apenas sei que minha vida não voltou ao normal, como a de outras pessoas. Ela recomeçou. E o que me guia é esse amor transformador que, ao invés de deixar tristeza com seu breve adeus, voa livre ao som de aplausos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Enquanto isso, no Brasil... Os afogados

O País está debaixo d’água. E não digo isso apenas devido ao zum-zum-zum do pré-sal... As chuvas torrenciais que afogam o país pelas últimas semanas alagam ruas, desabam casas e transbordam o Tietê. O mundo começou a cair numa terça-feira fria pós-feriado. A loucura nas estradas já havia complicado o trânsito nas principais capitais e ninguém imaginou que pudesse ficar pior. Mas o Brasil foi de encontro ao caos. Ele bateu à nossa porta e foi um verdadeiro salve-se quem puder. Santa Catarina voltou ao desesperador estado de alerta que tanto assustou a população no ano passado. Acreditem: não há guarda-chuva que aguente o vendaval. Naquela mesma terça-feira insana, eu passei três horas dentro do carro tentando chegar ao meu trabalho, trajeto que faço tranquilamente – e em dias normais – em 20 min. Além de desligar o carro pelo menos seis vezes, presenciei umas três ou quatro batidas, xingamentos mil e pessoas encharcadas no ponto de ônibus esperando o transporte que, sem dúvida, não chegou tão cedo. Aproveitei o tempo ocioso para reparar nos motoristas dos carros ao redor, uma distração surpreendentemente curiosa. É engraçado observar o que as pessoas fazem quando acham que ninguém está olhando: comem de boca aberta; cantam os mais variados estilos musicais em alto e bom som – do rock ao sertanejo universitário (que, aliás, é a nova febre brasileira); colocam o dedo no nariz; gritam ao telefone; tiram fotos de si mesmas fazendo caras e bocas... Enfim, comportamentos constrangedores. O repetitivo movimento de mudar a marcha do ponto morto à primeira e, logo em seguida, voltar para o neutro, cansa, distrai e é incrivelmente desgastante, além de nos fazer apelar à passatempos vãos. Depois de três horas de estresse, dificuldade e, admito, um leve entretenimento, finalmente me rendi ao óbvio: desisti e voltei para casa. Aliás, poucas pessoas conseguiram chegar ao trabalho nesse dia. Em apenas um dia caiu 80% da água que geralmente cai em 30 – e eu ainda suspeito uma certa modéstia nesta estimativa.

Acompanhando o rádio insistentemente, muitas questões vieram à tona: onde está a verba destinada às construções e manutenções dos piscinões? Na gaveta, claro. A situação vivida pelos brasileiros nos últimos tempos tem sido absolutamente inadmissível. Vivo em São Paulo há 22 anos e jamais enfrentei tal bagunça – e os caminhos que faço diariamente sugerem engarrafamentos bárbaros e intransitáveis. Olho para fora da janela do 16º andar da Editora Abril e vejo chuva, água, dilúvio. Testemunho o mar de automóveis na cruel saga das Marginais. Ah, que vontade de fugir... Uma leve tentação. O que nos resta é ter paciência – um difícil desejo em tempos como estes.

Texto publicado no jornal americano NOSSA GENTE, jornal dedicado à comunidade brasileira que reside no Estado da Flórida, nos Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores e assino a coluna ENQUANTO ISSO, NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Enquanto isso, no Brasil... O país de primeiro mundo

Estou de volta há quase quatro semanas. Depois de passar um tempo viajando por Moçambique, país africano que despertou em mim um enorme senso de ‘mundo’ e me apresentou as mil facetas da realidade humana, voltei para um lugar onde a guerra está no Senado. E isso não faz sentido. Cada país com seus problemas, claro, mas é quase inimaginável a possibilidade de levar uma vida normal daqui pra frente. Não há como assimilar a futilidade dos nossos problemas e das nossas necessidades depois de conhecer o real sofrimento do ser humano. Quando falam do atraso do Brasil e das dificuldades ainda enfrentadas por aqui, costumam dizer que é um país de terceiro mundo. Onde estaria, então, um lugar como Moçambique, onde apenas 14% da população têm energia elétrica, 16% têm HIV/AIDS e mais de 50% é analfabeta?

Destaco um grave erro cometido por muita gente, equívoco e generalização (para não dizer ignorância) que eu mesma já atentei: imaginar que o continente africano é um vasto campo de refugiados. Em alguns lugares, essa ideia tem sua validade. Mas é preciso ter cuidado ao crer piamente nessa superficial visão que a mídia tenta implantar em nossa mente. Além da desgraça, existem milagres, sim. Lá, eles conhecem e praticam algo tão desconhecido por nós, um estado de espírito chamado “resiliência”. Como uma mola, encontram forças para se reerguer.

A grande estupidez é viver uma vida na qual acreditamos ser a verdadeira. Supor que conhecemos o “outro lado da moeda” quando, na verdade, vivemos numa bolha, numa exceção. Não há como, pelo menos para mim, olhar a penúria largada nas ruas das nossas cidades e sentir alguma pena, alguma compaixão. A tristeza, a miséria, a fome e o frio são vilões completamente ausentes do nosso campo de noção. Você pode discordar comigo e me desafiar a persistir nessa opinião, mas garanto: nós não sabemos o que é pobreza. Pelo menos não nos grandes Estados. O Norte do nosso país é, certamente, uma grande ressalva.

Eu ainda não encontrei em mim as forças para acreditar e aceitar que vivo em país de terceiro mundo. Na minha humilde opinião, vivo em um de primeiríssimo mundo. Passei três semanas tomando banho de balde – às vezes de caneca -, dormindo com uma rede mosquiteira ao redor da minha cama, ouvindo – e sentindo – o pavor nos berros das crianças ao me verem, uma assustadora mancha branca. Tive pessoas se ajoelhando aos meus pés e se entregando à subserviência cruel e arcaica de uma escravidão extinta apenas na prática, e mulheres dando à luz durante o trabalho, colocando a criança dentro da bacia que carrega na cabeça, e indo para casa, feita de pau-a-pique, apenas no fim do dia, após quilômetros e quilômetros de caminhada. Eles vivem na escuridão, uma sagrada e bendita escuridão – e não sabem o quanto são miseráveis. E isso é incrível, é abençoado.

A verdade é que aos olhos do mundo, o Brasil continua sendo um país de terceiro mundo. Só me resta, então, chegar à conclusão que, simplesmente, a África não existe.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Enquanto isso, no Brasil... Bem longe dele

Estou em Moçambique, do outro lado do mundo. Apenas uma entre as milhares de áfricas que existem sob o mesmo pano do continente africano. O Brasil ficou para trás e a distância entre os dois países não é meramente geográfica - ainda que a língua seja a mesma. São dois mundos; infinitas realidades distintas e remotas. O país é minado pelo vírus HIV, que atinge mais de 16% da população. A expectativa de vida da população gira em torno dos 45 anos e os surtos de malária e cólera matam dezenas de pessoas ao ano. O choque não é sutil - é estrondoso, quase apavorante. O que estou fazendo aqui? Vim colocar os pés no chão. Como jornalista, a busca por isso é fundamental. Como ser humano, é crucial.

O ponto de partida foi Maputo, capital moçambicana. O trânsito nas ruas consegue ser pior (e bem pior) que o nosso. As “estradas”, como eles se referem às ruas, não têm faixas para pedestres - ou qualquer outra, para dizer a verdade. Além disso, o transporte público é demasiadamente precário, o que permitiu o surgimento e prevalência das famosas “chapas”, vans e caminhonetes particulares usadas para a condução das pessoas nas cidades do país. Os “chapeiros”, ou motoristas, colocam 30 pessoas em carros que suportariam até 10. Cansada do clima urbano, segui viagem.

Cada vez mais afogada pelos montes, lavo meus olhos com as lindas paisagens. Aqui, o céu é maior e é possível vislumbrar toda a sua dimensão. Parece um véu azul que protege e envolve o lugar de ponta a ponta. Fiquei alguns dias na província de Tete, onde encontrei muitos brasileiros que vieram para Moçambique a trabalho. Poucos dias depois, voltei à estrada. No caminho a Angónia, parei em Zóbuè, um dos distritos da província de Tete. Nos acostamentos, milhares de pessoas vendem batatas fritas, ratos em espetos (!!), frutas, amendoim e camisas dos fenômenos Ronaldo e Barack Obama. Ainda no trajeto, milhares de casas feitas de barro, palha e madeira, perdidas ao pé das estradas. Os banheiros, buracos no chão cercados por bambu, ficam do lado de fora das residências. Muitos quilômetros separam as vilas e comunidades que ainda sobrevivem sem energia elétrica. Estou encantada com a cultura e com o poder espiritual que comanda a vida das pessoas. Quem tem a última palavra são os curandeiros, “médicos tradicionais” que solucionam qualquer problema com uma erva com um remédio natural. E, finalmente, o distrito de Angónia. Apesar da difícil realidade, é um lugar repleto de paz. Montanhas, cabritos e mulheres lindas ilustram o retrato do local. Mas a qualquer momento, sigo viagem. Enquanto isso, o Brasil continua longe, extremamente longe.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Enquanto isso, no Brasil... O amor nos tempos do cólera

Aquela segunda-feira não seria como as outras. No caminho para o trabalho, a notícia chegou pelo rádio: um avião havia desaparecido misteriosamente pouco depois das onze da noite em algum lugar do Atlântico. Um frio na barriga tomou conta e mil cenários passaram por minha mente, que tentava imaginar o que teria acontecido e como. Pensamentos inquietos impedem que eu pegue no sono com facilidade até hoje. O envolvimento é quase sedutor. Vai ver a profissão de jornalista torne o contato com o mundo real bem maior e mais intenso. Quase inevitável. E não tenho tempo suficiente de carreira para ter endurecido - ou experiência o bastante para saber como lidar com esse endurecimento. Ainda não consigo me manter distante. E, na verdade, nem sei se quero.

Para tentar aliviar a minha intermitente confusão sobre o papel que devo assumir diante de tantos fatos impostos pela vida e pela profissão, decidi participar de um debate sobre Jornalismo Literário com feras da área: Pedro Bial (apresentador de TV), Eliane Brum (repórter especial da revista Época), Daniel Piza (editor do jornal O Estado de S.Paulo) e Sergio Vilas Boas (jornalista e escritor). A discussão defendia a humanização e a sensibilização do Jornalismo contemporâneo; o resgate do envolvimento do profissional com a sua pauta; e a resistência de textos “escritos com as entranhas”, definição que Gabriel García Márquez deu ao seu romance O amor nos tempos do cólera. Ao ouvir tanto profissionalismo refletido em cada um deles, percebi a minha inexperiência. Até que ponto devemos nos envolver com aquilo que escrevemos, lemos e vemos?

Ao final do evento, Daniel Piza me chamou num canto e me deu seu cartão: “esta é a sua resposta”. A frase que li no verso, escrita à mão com tanto carinho pelo brilhante jornalista, ecoa na minha mente sem descanso: cold eyes and warm heart.

Sob o encanto das palavras de Piza, viajo a Moçambique em menos de um mês na tentativa de humanizar os meus versos, os meus pensamentos e os meus sentimentos. Para me transformar na melhor profissional que posso ser. Para virar gente. De nada vale a distância interminável entre o ser humano e a dor. Por 10 dias (que, certamente, mudarão a minha vida) vou acompanhar missões humanitárias que combatem doenças como HIV, malária e cólera no país. E, para brigar com tantas enfermidades, levo meu medo - ainda sem nome. Talvez, o pior de todos: o pavor de não ser capaz de esfriar os olhos e deixar transbordar o coração.

Diante de um grave analfabetismo emocional, me encho de coragem e embarco em uma verdadeira mudança de vida. Daqui, saio plena. Completa da forma mais incompleta que alguém aos 22 anos poderia se sentir. E, pelo menos por ora, com o coração pegando fogo.

Texto publicado em 16 de junho no jornal americano NOSSA GENTE, em sua 27ª edição. Jornal dedicado à comunidade brasileira que reside na Flórida - Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores e assino a coluna ENQUANTO ISSO, NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

Enquanto isso, no Brasil... “O triunfo dos porcos”

Será essa pandemia suína, um alarme falso? Ou o mundo está realmente sob a ameaça do terror suíno? Ninguém sabe responder com segurança - talvez seja cedo demais para dizer. Mexicana ou norte-americana? Aliás, como situar sua origem geográfica? Até onde eu sei, epidemias não respeitam fronteiras. Tanto que o vírus chegou aqui, país que não deveria ter nada a ver com mais essa. Já vivemos uma crise que não nos pertence e, agora, o surto assusta os brasileiros. Percebe como tudo nos afeta por tabela? Definitivamente, não passamos ao largo da crise e, aparentemente, o celeiro instalou-se no país.

E para o pavor do PT, Dilma está tendo dificuldades em colar sem nome ao do presidente Lula. Como andam dizendo por aqui, o “neolulismo” que ela traria com a candidatura não passa de uma ilusão, já que o partido não se sustentaria sem o nosso companheiro. A imagem de Dilma como sucessora leal do sistema político de Lula servirá apenas para confundir os eleitores brasileiros. A esperança do PT de ofuscar os nomes do PSDB e continuar com o ouro na mão parece uma tentativa frustrada. Contagem regressiva para o rei descer do trono, retirar sua tropa e abandonar, de vez, o reino.

E falando em realeza, parece que pelo menos um sabe o que está fazendo. Para recuperar o tempo perdido, Ronaldo veio conquistar o título tão desejado por Mano Menezes. Não, não sou corintiana, mas não há como fazer marasmo quando o assunto é o Fenômeno. Torcemos por ele e ponto final. É claro, o time não favorece (peço perdão aos torcedores), mas é delicioso presenciar o renascimento de Ronaldo. E acreditem: o clima nas ruas é outro quando o Corinthians e o Flamengo estão à frente... Quase uma sensação de segurança.

Finalmente, apagaram o cigarro em São Paulo! A lei que proíbe fumar cigarro em lugares públicos fechados vai entrar em vigor. Amém! O cerco fechou e a tendência é mundial. Só nos resta saber se isso vai funcionar. Difícil dizer. Temos o horroroso hábito de não terminar o que começamos. Por aqui, as coisas dificilmente perduram. As consequências? Bom, elas raramente ocorrem, ainda que existam exceções. Mas, em alguns momentos, deixo escapar um suspiro de alívio quando vejo o certo sobrepor o errado. Um exemplo disso foi o cancelamento de mais de meio milhão de títulos de eleitores que não votaram e não justificaram a ausência nas últimas eleições. Essa gente não é uma palhaçada? Aliás, são poucas as questões no Brasil que não se enquadram em números circenses. Mas, nas palavras de Fernando Gabeira, quem luta por um país mais digno acaba caindo na “ilusão patrimonialista brasileira”.



Esta crônica foi publicada dia 16 de maio, no jornal americano
NOSSA GENTE, em sua 26ª edição. Jornal dedicado à comunidade brasileira que reside na Flórida - Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores do jornal e assino a coluna ENQUANTO ISSO, NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Frase do dia:

"Keep coming up with love, but it's so slashed and torn... Why can't we give love that one more chance? 'Cause love's such an old fashioned word" - David Bowie

quarta-feira, 6 de maio de 2009

"Atualizações"

Sim, é vergonhoso não atualizar o blog por dois meses. Eu sei. Bom, esse post não pode ser considerado uma atualização, mas, pelo menos, postei os dois últimos textos da minha coluna ENQUANTO ISSO, NO BRASIL abaixo (o que, também, não é uma atualização, já que a última tem quase um mês)...

Enquanto isso, no Brasil... As pérolas presidenciais

Como de costume, a maior diversão do brasileiro é o próprio presidente. Depois de fazer bonito no Reino Unido - afinal, não foi ele que abraçou a Rainha - ele está se achando ‘o cara’. Não é para menos: o elogio foi dado pelo fazedor de milagres, Barack Obama, atual melhor amigo de Lula. Durante o chá da tarde, também conhecido como G20, os países combatem uma crise causada por ‘loiros de olhos azuis’! Opa! Eis a primeira pérola do nosso presidente. Além de achar chique emprestar dinheiro ao FMI, ele ainda confessou que reza mais por Obama que para ele mesmo, já que o problema do presidente norte-americano é bem maior que o nosso. Por aqui, a crise rebaixa meio milhão de brasileiros para as classes D e E. Já por aí, os bancos continuam fechando e a situação está oficialmente preta: a Disney anunciou a demissão de quase dois mil funcionários. Numa hora como essa, não há mágica que resolva o problema.

E a coisa está feia para todo mundo: até o império de luxo paulistano dançou! Ou melhor, deu uma bela escorregada, mas está de volta. Fraude e formação de quadrilha (entre outros) não significam mais nada por aqui. O destino por trás das grades de Eliana Tranchesi virou história em pouco tempo – pouquíssimo tempo, aliás. Merecido! A cana - não ter se livrado dela dias depois. Esse pessoal vai para a cadeia passar o feriado enquanto a poeira baixa. Mas nada que muito dinheiro e câncer não resolva. O Brasil é assim: justiça ‘dura’ e coração mole.

Mas vamos às boas notícias! Mais uma edição do Big Brother Brasil chegou ao fim, para as férias merecidas de Pedro Bial - eu estava mesmo precisando. Ainda não me conformo com a falta do que fazer desse (ex) jornalista. Ontem, no Muro alemão. Hoje, no paredão! Max: o mais novo milionário que não faz a mínima ideia do que fazer com tanto dinheiro – ou com a vida. E, é claro, o povo gosta. Como vibra! E dessa vez, nem eu escapei: minha família resolveu acompanhar e torcer junto! Que castigo. Mas o nosso país trabalha com extremos: as duas figuras mais populares no Brasil atualmente são o Lula e esse menino. Inacreditável. Confesso que isso me assusta – chega a ser uma doença cultural, intelectual.

Por essas e outras, o Brasil é fantástico – no sentido mais literal da palavra. E eu tenho achado muita graça em viver por aqui. Afinal, “humor não é piada, mas uma ferramenta de sobrevivência”- C. W. Metcalf

Esta crônica foi publicada dia 16 de abril, no jornal americano NOSSA GENTE, em sua 25ª edição. Jornal dedicado à comunidade brasileira que reside na Flórida - Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores do jornal e assino a coluna ENQUANTO ISSO NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

Enquanto isso, no Brasil... O colapso

Que conversa é essa de que a crise internacional é uma simples “marola”, Sr. Presidente? É possível enxergar a olho nu que o Brasil apertou o cinto nessa onda violenta e que bons ventos não irão soprar por enquanto. Para quê teimar nesse jogo de otimismo? Com o mundo correndo o risco de totalizar mais de 50 milhões de vagas de emprego perdidas devido à crise, e com a queda da produção industrial em janeiro, o Ministro da Fazenda ainda garante que nós seremos os primeiros a sair debaixo do rolo compressor.

Num mundo que está tendo que estatizar a economia para sair dessa, o mercado de trabalho está ganhando uma nova cara: o espaço agora é de terceirizados e prestadores de serviços. O que está difícil de entender lá no circo do DF é que brincadeira tem hora e essa não é uma delas. Dizem que otimismo perpétuo é sinal que você não está prestando atenção. Bem-vindo ao Brasil.

Fim de carnaval é começo de ano por aqui. Salgueiro e Mocidade Alegre saíram vitoriosas, assim como Slumdog Millionaire. A nossa übermodel Gisele Bündchen se casou em segredo e a Páscoa vem aí. 2009 começa agora.

E o Brasil já viu de tudo nessa vida, mas ninguém contava – ou acreditava - num retorno tão marcante quanto o do Fenômeno ao futebol brasileiro. O Ronaldo está no Corinthians... Ou melhor, o Corinthians agora é de Ronaldo. Gol de cabeça, alambrado quebrado e cartão amarelo: ele caiu do céu e voltou a brilhar. Sua volta por cima foi emocionante, quase épica. De pé, foi aplaudido até pelos rivais. E assim, ele está de volta.

Mas não foi apenas o Fenômeno do futebol que ressurgiu... Driblando um futuro onde o sol deveria nascer quadrado para o resto de sua vida, o ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, se aproveitou da memória seletiva do cidadão brasileiro e redesenhou sua ascensão política: assumiu o comando da Comissão de Infraestrutura do Senado. Será que finalmente conheceremos os descaminhos do dinheiro público? O silêncio responde.

Tudo muda para ficar igual; os cidadãos continuam com medo do futuro. Mas os políticos vivem aterrorizados com o próprio passado.


Esta crônica foi publicada dia 16 de março, no jornal americano NOSSA GENTE, em sua 24ª edição. Jornal dedicado à comunidade brasileira que reside na Flórida - Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores do jornal e assino a coluna ENQUANTO ISSO NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

domingo, 3 de maio de 2009

A cereja em cima do meu bolo

Que maravilha. Maravilha no sentido mais literal da palavra. Quase mágico. Quase, não. Mágico, do começo ao fim. Incrível no sentido mais fabuloso. No sentido mais encantador. No sentido mais incrível da palavra. "Não há injustiça que perdure nessa vida". A frase é minha. Está entre aspas por uma questão de estética. De ênfase. Fica mais bonito. Mas, realmente... não há injustiça que perdure nessa vida. Acredite. Prometo que não há. O justo e o certo chegam. Eles chegam. A cavalo branco - galopante e majestoso. E, finalmente, desentopem o que quer que seja que impedia você de respirar fundo. De suspirar. De se ver livre de um frio na barriga que não lhe pertencia. De uma dorzinha no coração que não deveria estar lá. Você consegue, finalmente, abrir um sorriso de paz, de conforto. Um sorriso de domingo. E olhar para trás é a última coisa que você quer - ou que precisa. Afinal, a sua vida está à frente. Sem o mundo pesando nas costas, você pode ir dançando, correndo ou caminhando lentamente. É, não há injustiça que perdure nessa vida. Não sou Shakespeare, Freud e muito menos Sting. Mas eu prometo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Frase do dia:

"Be not the slave of your own past. Plunge into the sublime seas, dive deep and swim far, so you shall come back with self-respect, with new power, with an advanced experience that shall explain and overlook the old." -Ralph Waldo Emerson

terça-feira, 3 de março de 2009

Palestras no Sesi Ipiranga

Novidades!

Nos dias 11 e 13 de março, darei palestras sobre Jornalismo no Sesi Ipiranga a convite de uma querida amiga e professora que acompanha todo o meu trabalho, entre eles a coluna mensal no jornal americano Nossa Gente, o blog Dezacreditando e minhas publicações na revista CLAUDIA.

Em um bate-papo descontraído, vou abordar os diferentes gêneros jornalísticos (em especial, o jornalismo literário), descrever os bastidores da profissão e contar um pouco sobre minha trajetória nessa carreira maluca (em rádio, jornal, revista, assessoria e por aí vai...)

11/03 - 08h
13/03- 17h30

E é o que sempre digo: aos poucos, vou me realizando.

Grande beijo!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Frase do dia:

"You gotta quit waiting for something to happen and start doing something about it" - anonymous

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O cubo mágico

O dia quente ficou do lado de fora do prédio erguido no meio da Av. Nações Unidas. O ar-condicionado engana e desmente o termômetro que marca 32º C lá fora. Sentada à frente do meu computador, olho em volta e vejo o desespero de cerca de 20 mulheres em dia de fechamento da edição da revista. Tenho mil coisas para terminar até o fim do dia: biografias, crônicas, perfis (etc. etc.) que compõem as seções de cada mês e formam o recheio de um dos principais veículos de comunicação do país. Mas a tarefa mais importante é uma que tem consumido grande parte dos meus pensamentos: colocar no papel os principais gêneros literários para uma aula de sexta-feira. Como? O jornalismo tem mil faces e cores. Faces opostas, assimétricas e geométricas. Não faz sentido e reúne todos os sentidos do mundo. Sempre considerei o jornalismo literário o mais deleitoso estilo jornalístico, tanto que dediquei meu blog a essa forma livre e tão subjetiva da profissão. Um dos grandes prazeres da vida é a leitura; mas o maior é poder criar seu próprio texto embasado em uma bagagem rica, moldada pelo conhecimento literário que você reuniu durante a vida. O jornalismo literário permite que você costure seu texto da forma que quiser: com a linha do fantástico, a cor da verdade, os tons degradê do factual e o brilho da ironia. E, assim, é possível contar a mesma história com vozes, ênfases e intensidades diferentes.

As biografias são distantes; um relato quase neutro de algo que, por mais que envolva o autor, permanece sendo uma narrativa sobre outra pessoa, outra vida e outra realidade. A biografia começa onde a vida começa e caminha proporcionalmente ao crescimento do seu ‘objeto de estudo’. E deve caminhar com uma meta, sobre uma linha de veracidade e, principalmente, manter-se fiel ao factual. O trabalho é denso, requer debruçar-se sobre pilhas e pilhas de livros para dissecar toda uma trajetória. Para os menos minuciosos, um perfil basta. Um breve relato, não menos interessante ou verdadeiro, não necessariamente superficial, mas ainda lacônico o suficiente para pontuar os principais aspectos e acontecimentos sobre uma personalidade.

Ainda estou sentada na mesma posição. Pedi auxilio para algumas grandes jornalistas aqui da redação sobre a minha grande tarefa. Olhares perdidos e confusos. Quais são as principais diferenças e características entre esses gêneros? Além do tamanho e ponto de vista da matéria, não sei, Andrezza. Não, elas não conseguiram iluminar minha dúvida. Mesmo porque, quais são as principais diferenças? Na revista onde trabalho, publicamos perfis e histórias de vida sempre. As histórias contam de alguma situação específica ou, resumidamente, sobre as principais conquistas, acontecimentos, alegrias e tragédias da vida de alguém; ou seja, sua história. Já o perfil é mais focado, mais sucinto, e ainda carrega conteúdo.

Tá vendo? Eis o encanto do jornalismo literário. Não há como definir, como explicar a teoria. É subjetivo, inteligente. Mas a magia do jornalismo literário é sua maleabilidade, qualidade que confunde até mesmo os mais intelectuais. Jornalismo ou Literatura? Cabe a você decidir. Não, na verdade, cabe a mim. A responsabilidade de entregar uma, duas ou três laudas sobre esses tópicos, é minha. Espero que minha ignorância seja perdoada.

Crônica? Bem me lembro de algo que foi dito em sala de aula: não se ensina. É pessoal, fantasiosa talvez, provavelmente crítica e carrega alguns elementos que não estão presentes no jornalismo. Ainda que diferente, a crônica patina entre os extremos... Alguns até dizem que o cronista é um poeta do cotidiano. Quem sabe? Cada um sabe da sua e ponto final.

Meu TGI. Ou melhor, meu livro-reportagem. Isso tem me tirado o sono. Intenso, extenso e recheado de detalhes detalhadíssimos (perdoe minha redundância). Foge do jornalismo convencional, pois o tradicional não suporta sua amplitude superior. A liberdade deste gênero rasga os limites impostos e é atraído loucamente pela Literatura. O tema em foco é tratado com mais minúcia, mais carinho, mais atenção. É o ‘território’ das possibilidades: onde caprichar é possível, onde você trabalha sua criatividade exacerbada e dá asas potentes à reportagem. Onde você pode ir além, muito além. Falando em ir além, ainda preciso escrever a tal tarefa. Mas como? Como definir uma coletânea? Um grupo, uma série que também balança entre os extremos, uma compilação de textos que abordam o mesmo tema, um mesmo foco - ou não. Talvez, volumes que podem, também, tratar de assuntos diferentes sob um mesmo guarda-chuva.

Essa chuva de informações aliviou um pouco meu writer’s block. Agora, ainda sentada na mesma cadeira à frente do computador, não tenho mais 20 mulheres frenéticas ao meu redor. A maioria já foi pra casa; coisa que eu deveria ter feito há, pelo menos, 40 minutos. O calor lá de fora com certeza diminuiu, e aquele sopro gelado de fim da tarde pede um casaquinho. O céu já está escurecendo - definitivamente, o horário de verão acabou. Vou parar de perder tempo. Afinal, tenho muito trabalho pra fazer. Preciso me concentrar. Ainda nem comecei minha tarefa.

Enquanto isso, no Brasil... Ô abre alas!

Desta vez, passamos longe do tapete vermelho hollywoodiano. A 81ª edição do Oscar fica sem cinema brasileiro e sem graça. Confesso não ter assistido a todos os filmes indicados - mesmo porque, alguns ainda nem chegaram aqui! Mas antecipo minha curiosa impressão a respeito da adaptação da obra de F. Scott Fitzgerald às telas: merecia o prêmio de maior tédio na história do cinema. Antes do bombardeio de críticas, concordo de antemão: Benjamin Button reúne maravilhas como cenário, maquiagem, Brad Pitt e roteiro - afinal, estamos falando de um clássico. Mas insisto: ler o livro, além de mais rápido, teria proporcionado três horas bem mais deleitosas do que a canseira dada pelo diretor David Fincher. Hollywood atual: tentativas frustradas que agradam a maioria.

Mas vamos ao que interessa: enquanto isso, no Brasil, a crise financeira chegou de carro alegórico ao sambódromo! As escolas de samba se desdobram e rebolam para driblar a falta de verba para garantir a entrada glamorosa na avenida. Neste ano, a data mais animada - e talvez a mais esperada pelos brasileiros - não será somente ao som dos enredos carnavalescos: mais de 40 anos depois, as tradicionais ‘marchinhas’ voltam a fazer sucesso!

E o Brasil está nas mãos do PMDB com duas estrelas (de)cadentes à frente do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Sarney e Temer ficam no comando das casas e aquecem a disputa para 2010. E nem todos estão com essa bola toda: depois de 223 dias no Chelsea, o nosso técnico Felipão perdeu o cargo e deixou a equipe sem vencer um clássico sequer no campeonato.

Falando em sucesso, cheguei à conclusão de que a moda no Brasil é ditada pelas novelas de Glória Perez. Desde que a última estreou, haja incenso, cangas e audiência! À caráter, as pessoas seguem o caminhos das Índias pelas ruas do país! E o BBB é o ‘fracasso’ de maior ibope da TV brasileira. Há sete anos me pergunto o que o Pedro Bial faz lá. Um jornalista que, em seus dias de glória cobriu a queda do Muro de Berlim, hoje é pago (e muito bem) para colocar pseudo-celebridades no paredão! Quem te viu, quem te vê!

O que nos resta é o samba no pé, pois como já dizia Graciliano Ramos, “a única certeza do brasileiro é o Carnaval no próximo ano”.
Esta crônica foi publicada dia 16 de fevereiro, no jornal americano NOSSA GENTE, em sua 23ª edição. Jornal dedicado à comunidade brasileira que reside na Flórida - Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores do jornal e assino a coluna ENQUANTO ISSO NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Frase do dia:


Viva sua vida rindo dela e sorrindo nela

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

um eufemismo torto e uma metonímia azeda

E ontem ele bateu à minha porta. Jamais acreditei que o faria. Sempre esteve distante. Era certo que ele nunca teria coragem de se aproximar. Mas veio. E entrou. E agora? Faço sala? Ofereço um copo d’água? Algo mais forte, talvez. Arrisco um papo desagradável ou não digo? Não importa. Ele já entrou e se esparramou no sofá. Sente-se em casa e os pés estão em cima da mesa. E eu ainda nem fechei a porta - e não vou. Será que ele não demora? Mas demora. Recosta-se na almofada e fecha os olhos. Com a maior calma do mundo. Serenidade sua que briga com minha desesperada tentativa de expulsá-lo daqui. Levantou-se e caminhou rumo aos quartos - ao meu. Entrou. E lá, ficou. Está lá até agora; e eu não durmo mais. Invadiu meu sono. Levou minha calma. Medo? Tremendo. E depois? Roubou meu travesseiro e a cama ficou pequena para tanto. Ignorou minha (in)segurança. E o ontem ficou longe, da noite pro dia. E meu mundo caiu. Caiu durante uma xícara de chá. Quando ele bateu à porta. ‘Quem é?’: quase dilacerou o silêncio. Impronunciável. Ele. Cujo nome ninguém consegue dizer.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Entre uma e outra

Meu negócio é prosa. Poesias têm um poder sobrenatural de me irritar. A linha que traça esse limite é tênue; tão simples e discreta quanto uma vírgula mal colocada. O sentimentalismo cavalar e a sensibilidade exorbitante são opressivos. Pessoas que utilizam de elementos poéticos como uma estratégia “pseudo-intelectual exibicionista” são as piores. Intragáveis. Em seguida, diria que são aquelas que enxergam uma beleza indubitavelmente inexistente em coisas completamente livres de qualquer traço encantador. Pode ser que elas tenham uma força espiritual mais desenvolvida que a minha ou que tenham lido duas ou três peças shakespearianas das quais nada entenderam. As possibilidades são infinitas. E a prosa não caminha entrelinhas - ela dança descomunalmente.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

E arde

Que aperto no peito. A angústia não vai embora. Fica, espreme, sufoca. Às vezes ensaio uma respiração profunda que alivia brevemente. Mas aí, logo volta. Hoje eu acordei serena e com bom humor, mas isso é de praxe. Mas, para combinar, o doloroso contraste da sauna que sinto arder dentro de mim. Imagino - pois já nem me lembro bem - que o dia anterior tenha sido ruim. Se não, difícil. Conturbado. Meus olhos inchados com certeza transparecem isso. Minha dor de cabeça voltou. Há tempos ela havia desistido de mim. Mas sentiu saudade. Talvez eu também. Assim tenho uma ótima desculpa para não falar demais, me fechar num canto. E o aperto não passa. Quando isso acontece, tento desabafar; encontrar uma forma de canalizar a confusão. Mas desta vez, não funcionou. Há, pelo menos, vinte pessoas ao meu redor e as vozes estão longe, ecoando um blá, blá, blá surreal. De novo, forcei uma respiração profunda. Fica cada vez mais difícil pegar ar. Impressão minha, meu coração está pesado. Não consigo pensar em nada. Criatividade zero. Nenhuma palavra combina, nenhuma idéia é boa o suficiente para ser discutida. Minha vontade é nula. Paciência também. As linhas continuam e respiro com mais e mais anseio. Sabe quando você se pega olhando pro nada e nem imagina há tempo ficou fora do ar? Pois é. Mas a diferença é que eu sei. Fiquei fora tempo demais.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Frase do dia:

“Finish each day and be done with it. You have done what you could. Some blunders and absurdities no doubt crept in, forget them as soon as you can. Tomorrow is a new day, you shall begin it well and serenely...” Ralph Waldo Emerson

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O castigo veste branco

(desabafo miscelânia na madrugada...)
Fiquei internada por uma semana. Dias nada fáceis, muito menos as noites. O vai e vem infernal de enfermeiras, enfermeiros, médicas e médicos que interrompem um sono que nem existe com o entra e sai de agulha, soro e remédio. Cinco dias dormindo de barriga pra cima com os braços estendidos fazem você querer dormir para o resto da sua vida de barriga pra baixo e com a mão debaixo do travesseiro. Minha maior alegria era o ar-condicionado, que logo perdi, pois minha mãe insistia em aumentar a temperatura. Algumas coisas mudaram desde então... Por exemplo: sempre gostei muito de sopas mas depois do meu castigo, se tornaram intragáveis. Não bebo, não como gelatina ou tomo banho usando chinelos. A semana também serviu para eu me atualizar nas futilidades da Rede Globo. Comecei a ver a nova novela (e parei logo que recebi alta) e acompanhei o fuzuê que é esse BBB. Tenho a leve impressão que o programa ficou emperiquitado demais, repleto de baboseiras ampliadas e pioradas (mas admito que ainda dou aquela ‘espiadinha’ discreta quando passo pela sala de TV). Os hospitais me cansam e eu, definitivamente, não combino com eles. Eu nunca tinha sido internada antes e não recomendo. Em alguns momentos, a única forma de manter minha sanidade era andar pra lá e pra cá. Me senti a pessoa mais debilitada da face da terra – até dar uma voltinha pelos corredores. Ao mesmo tempo em que é deprimente, a esperança que você enxerga ao zigue-zaguear por alguns minutos em outros andares, faz com que você se sinta melhor. Infelizmente.

Uma tarde em que eu me vi livre do soro por alguns minutos, não pensei duas vezes e fui rondar o hospital. Fugindo um pouco do campo de visão dos meus enfermeiros, comprei um sorvete de limão e fui me sentar num sofá perto da janela. Há quanto tempo eu não via a rua, as pessoas, os carros... O sol! Mentira, não tinha sol... Mas o dia! A luz do dia! Nos cinco minutos de êxtase profundo, conheci uma garotinha de apenas cinco anos que tinha sido operada e acabado de sair de um coma. Mas ela estava tão entretida com suas bolhas de sabão e tão feliz quando contei a ela que era só colocar mais shampoo (já que não tem detergente em hospitais) pra fazer mais e mais bolhas, que era como se nada tivesse acontecido. Ela soprava e soprava naquele aro de plástico com uma inocência quase inacreditável. O mundo era perfeito e colorido. Muitas vezes é bom levar um susto pra engrenar na pista certa. E aí, quando isso acontecer, soprar umas bolhas de sabão será o seu convite à mudança. Ficar uns dias longe da minha vida me deu mais fôlego. Naquela tarde, voltei pro meu quarto mais feliz e paciente. Dormi em paz... Sabia que logo eu sairia de lá.
(pronto. agora posso voltar a dormir. precisava soltar um pouco, aliviar minha mente. nada melhor que escrever baboseiras pra distrair e distanciar as preocupações. boa noite.)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mais um Ano Novo

Foi ao som da tradicional canção ‘Adeus ano velho, feliz ano novo’ que meu ano virou. Sob uma noite - não muita estrelada - carioca e uma imensidão de água ao redor, os fogos da Barra da Tijuca iluminaram o céu. Não, nada especial ou diferente. Inclusive, um tanto decepcionante. Um brinde entre amigas seguido por uma chuva de champanhe ilustrou os primeiros minutos do novo ano: 2009. Estão dizendo por aí que os próximos 300 e poucos dias são de inovação e renovação, um recomeço. Li esses dias, não sei bem onde, a definição do Réveillon: Ano Novo, Esperanças Novas, Regras Novas. Acho ótimo. Estava precisando mesmo redefinir alguns conceitos e quebrar algumas normas ultrapassadas. Tenho a impressão (leve, sutil, quase imperceptível) de que coisas boas estão por vir. Afinal, 2009 será decisivo... De formas incrivelmente distintas.

Bom, só passei mesmo para desejar uma ótima entrada!

Enquanto isso, no Brasil... ‘2000 Inove’

As taças de champanhe tilintaram à meia-noite, as sete ondas foram puladas, as mandingas e superstições colocadas em práticas e as mil promessas para o novo ano jogadas ao vento. Depois de cumprirmos nossas tarefas iniciais para garantirmos um ano repleto de saúde, paz e amor, abrimos as porta para mais 365 dias. Os brasileiros abraçaram a proposta do Bradesco e ‘2000 inove’ já está fadado ao sucesso! Ano de inovação e renovação! Este comecinho serve como aquecimento: criamos a coragem e o pique para mais uma rodada enquanto a correria dita as regras. Aos poucos, colocamos o samba no pé! O Carnaval vem chegando para quebrar novamente a rotina. Com muito otimismo e esperança, nada como uma boa festa para (re)começar com o pé direito!

O bem da verdade é que o brasileiro começou o ano com o pé atrás, receoso e cauteloso. As surpresas que sabemos que estão por vir assustam a nação e colocam todos em indeterminado estado de alerta. A maioria dos Estados já anunciou cortes de gastos para enfrentar as consequências da crise americana, que deve desembarcar a qualquer momento no país. À espera, o Brasil prepara seu exército para a batalha financeira.

2009 estreia com mais uma novidade que já está valendo! Na tentativa de padronizar o português nos países onde se fala o idioma, o novo acordo ortográfico praticamente assassinou a língua que conhecemos. As novas regras derrubaram a trema que, em minha opinião, vai tarde; cortaram determinados hífens; e eliminaram alguns acentos que davam sentido e diferenciavam palavras. É, no mínimo, estranho ter que reaprender a escrever, mas ainda há tempo para a adaptação.

Sinto fugir um pouco dos devaneios a cerca do Brasil, mas não há como ignorar a selvajaria que tira a vida de centenas de pessoas no Oriente Médio. Enquanto vivemos em meio às crises e insatisfações que são relevantes dentro do nosso cenário, fico imaginando como é viver sem a mínima esperança, jogada à própria sorte, sem saber se sobreviverei o próximo minuto. Talvez a distância seja grande demais para fazermos qualquer diferença - mas prefiro acreditar que daqui nossas orações têm mais força.

Nossa gente, sejam bem-vindos a 2009.