quarta-feira, 15 de julho de 2009

Enquanto isso, no Brasil... Bem longe dele

Estou em Moçambique, do outro lado do mundo. Apenas uma entre as milhares de áfricas que existem sob o mesmo pano do continente africano. O Brasil ficou para trás e a distância entre os dois países não é meramente geográfica - ainda que a língua seja a mesma. São dois mundos; infinitas realidades distintas e remotas. O país é minado pelo vírus HIV, que atinge mais de 16% da população. A expectativa de vida da população gira em torno dos 45 anos e os surtos de malária e cólera matam dezenas de pessoas ao ano. O choque não é sutil - é estrondoso, quase apavorante. O que estou fazendo aqui? Vim colocar os pés no chão. Como jornalista, a busca por isso é fundamental. Como ser humano, é crucial.

O ponto de partida foi Maputo, capital moçambicana. O trânsito nas ruas consegue ser pior (e bem pior) que o nosso. As “estradas”, como eles se referem às ruas, não têm faixas para pedestres - ou qualquer outra, para dizer a verdade. Além disso, o transporte público é demasiadamente precário, o que permitiu o surgimento e prevalência das famosas “chapas”, vans e caminhonetes particulares usadas para a condução das pessoas nas cidades do país. Os “chapeiros”, ou motoristas, colocam 30 pessoas em carros que suportariam até 10. Cansada do clima urbano, segui viagem.

Cada vez mais afogada pelos montes, lavo meus olhos com as lindas paisagens. Aqui, o céu é maior e é possível vislumbrar toda a sua dimensão. Parece um véu azul que protege e envolve o lugar de ponta a ponta. Fiquei alguns dias na província de Tete, onde encontrei muitos brasileiros que vieram para Moçambique a trabalho. Poucos dias depois, voltei à estrada. No caminho a Angónia, parei em Zóbuè, um dos distritos da província de Tete. Nos acostamentos, milhares de pessoas vendem batatas fritas, ratos em espetos (!!), frutas, amendoim e camisas dos fenômenos Ronaldo e Barack Obama. Ainda no trajeto, milhares de casas feitas de barro, palha e madeira, perdidas ao pé das estradas. Os banheiros, buracos no chão cercados por bambu, ficam do lado de fora das residências. Muitos quilômetros separam as vilas e comunidades que ainda sobrevivem sem energia elétrica. Estou encantada com a cultura e com o poder espiritual que comanda a vida das pessoas. Quem tem a última palavra são os curandeiros, “médicos tradicionais” que solucionam qualquer problema com uma erva com um remédio natural. E, finalmente, o distrito de Angónia. Apesar da difícil realidade, é um lugar repleto de paz. Montanhas, cabritos e mulheres lindas ilustram o retrato do local. Mas a qualquer momento, sigo viagem. Enquanto isso, o Brasil continua longe, extremamente longe.