terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

um eufemismo torto e uma metonímia azeda

E ontem ele bateu à minha porta. Jamais acreditei que o faria. Sempre esteve distante. Era certo que ele nunca teria coragem de se aproximar. Mas veio. E entrou. E agora? Faço sala? Ofereço um copo d’água? Algo mais forte, talvez. Arrisco um papo desagradável ou não digo? Não importa. Ele já entrou e se esparramou no sofá. Sente-se em casa e os pés estão em cima da mesa. E eu ainda nem fechei a porta - e não vou. Será que ele não demora? Mas demora. Recosta-se na almofada e fecha os olhos. Com a maior calma do mundo. Serenidade sua que briga com minha desesperada tentativa de expulsá-lo daqui. Levantou-se e caminhou rumo aos quartos - ao meu. Entrou. E lá, ficou. Está lá até agora; e eu não durmo mais. Invadiu meu sono. Levou minha calma. Medo? Tremendo. E depois? Roubou meu travesseiro e a cama ficou pequena para tanto. Ignorou minha (in)segurança. E o ontem ficou longe, da noite pro dia. E meu mundo caiu. Caiu durante uma xícara de chá. Quando ele bateu à porta. ‘Quem é?’: quase dilacerou o silêncio. Impronunciável. Ele. Cujo nome ninguém consegue dizer.

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