quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Meus, seus, nossos valores

Hoje eu li um post no blog de uma grande amiga e o seguinte assunto foi abordado: valores. Sei que é um tema batido, muito discutido. Na verdade, ouso acrescentar "valores" àquele velho ditado "não se discute futebol, religião e política". Ficou assim: não se discute futebol, religião, política e valores. E valor, realmente não se discute. Porém, hoje eu questionei alguns. Essa minha amiga contou em seu blog um episódio interessante que ocorreu durante seu final de semana. Ela foi a uma boate um tanto quanto cara (não citarei o nome, pois não quero fazer propaganda – tanto contra quanto a favor). Até aí, dar-se ao luxo de conhecer lugares bem freqüentados não tem problema algum. A grande charada da noite foi quando ela percebeu que poderia ter se divertido muito mais em outro lugar e por um preço bem menor (conheço bem este sentimento e é bem frustrante). Ela questionou o motivo pelo qual cobravam tão caro pelas bebidas e até porque exigiam tanto dinheiro simplesmente para estar lá. Ela teve muita coragem de publicar este episódio em seu blog, pois muitas pessoas fazem este tipo de extravagância sem ao menos questionar (em um mundo silencioso, dar o primeiro grito é correr o risco de produzir um eco eterno). Caso não tenha dito, quando ela foi pagar a comanda, se deparou com duas situações: uma garota pagava uma conta de R$ 740 e outra jovem, uma conta de R$ 900 – então, quando digo "extravagâncias", por favor, acreditem em mim. Caso não concorde, pare de ler este post imediatamente. Obrigada.

Continuo a postagem ao meu querido e prudente leitor: Pagar R$ 80 para estar em um ambiente "bem freqüentado" (e deixo claro que isto é relativo) já não parecia tamanho absurdo. Porém, quero que você entenda que R$ 80 reais perto de R$ 740 ainda são R$ 80 (vou ignorar os R$ 900, pois gastar esse valor em uma "balada" já é palhaçada. Por favor, consumir R$ 740 também está fora da realidade, mas tenho que manter algum exemplo). Não quero que você, caro leitor, dê menos importância aos R$ 80, somente por ser tão mais baixo. Enfim, não vou usar o velho argumento de que não se devem gastar quase mil reais em tamanha futilidade enquanto o nosso país padece na miséria – isto, todos sabem. Vou discutir valores. Na verdade, vou questionar e perguntar a você: aonde foram os valores? Primeiramente, quem gasta tudo isso em uma "balada", rico não é. E isso, eu lhe garanto. Certamente, é um "novo rico". Alguém que não sabe o valor do dinheiro e a dificuldade que é mantê-lo. Porque conseguir, convenhamos: qualquer um consegue. Manter é outra história. Para quem não sabe, dinheiro não aceita desaforo e dinheiro não nasce em árvore – isto pode ficar cansativo, porém repito: valores. Quem quer impressionar, quem quer fazer parte de um novo grupo, no qual na verdade não pertence, gasta mesmo. E gasta com um sorriso no rosto. Gasta com orgulho de ter desembolsado quase três salários mínimos. E é aí que vemos a diferença de apego, vemos como o “importante” para um é diferente do “importante” para o outro. Como que uma pessoa pode ser tão burra a ponto de se humilhar desta maneira? Humilhar, sim! Como minha amiga disse em seu post, pagar o valor cobrado nestas casas noturnas é denominar-se um idiota. Pagar R$ 15 em uma cerveja enquanto uma caixa (da mais cara) no supermercado (do mais caro) não passa dos mesmos R$ 15, é burrice. Beira a ignorância. Acreditem, já estive nesta boate onde minha amiga presenciou tal absurdo social e nunca mais voltei (valores pessoais). Ir de vez em quando, dar-se ao luxo de vez em quando, não tem problema algum. Não julgo, mesmo porque, gosto de freqüentar locais que "estão na moda". Agora eu gostaria de saber somente uma coisa: quantas pessoas, das que estão lá, pagam a conta com o próprio dinheiro? Gostaria de perguntar à jovem que gastou R$ 740 ou à jovem que gastou R$ 900, de onde veio o dinheiro delas? Do próprio bolso? Da própria conta? Na maioria dos casos, dou-lhe a certeza que o dinheiro vem dos pais. O que é bem pior: além de não terem a mínima noção financeira, não respeitam o dinheiro da própria família e nem ao menos sustentam a própria futilidade. São adolescentes (pois não ouso nem me referir a eles como adultos) sem a mínima responsabilidade. Adolescentes mal-acostumados que têm a inteligência gozada cada vez que desembolsam valores horrendos com um sorriso no rosto. Acredito que se a situação fosse inversa, se o dinheiro pertencesse a elas e outra pessoa o tivesse esbanjando, não seria tão engraçado assim. (Você vai dizer que cada um gasta o seu dinheiro como bem entende. Se a pessoa tem mil reais para gastar em energético, em garrafa de uísque e camarote, por que não gastar? Novamente: uma questão de valores). Mas como gosto de dizer, a culpa não é da fonte. A culpa é de quem bebe dela. Ou seja, não devemos julgar e condenar essas boates que exploram seus clientes; devemos condenar quem paga para ser extorquido dessa maneira. O exemplo que gosto de usar é o seguinte: devemos atribuir o problema do tráfico de drogas aos traficantes? Não. Deveríamos atribuir tal violência aos consumidores. Quem fuma um baseadinho, cheira cocaína ou qualquer outra coisa que esse pessoal usa para chamar a atenção, são os verdadeiros culpados pelo tráfico. Eles financiam a maior violência deste país – e do mundo. Pode encher a boca e me chamar de careta ou do que for mais conveniente. É a mais pura verdade. Então, a conclusão que chego é a seguinte: o motivo pelo qual essas baladas cobram o valor que cobram é simples: tem quem pague. Famosa lei da oferta e da demanda. Mas até aí, estamos tratando apenas de valores. Penso que, talvez, os meus estejam invertidos. Prefiro acreditar que não. Mas, quem sabe? Não quero que meus filhos financiem o tráfico, não quero que os meus filhos gastem o sustento de uma família inteira em caipirinhas, em energéticos ou em lugares caros somente para se sentirem aceitos. É pedir demais? Porque, na verdade, minha grande indagação, a maior das minhas perguntas e talvez, a verdadeira charada dos tempos de hoje é: o que faz um jovem tão infeliz a ponto de recorrer às drogas, às futilidades, ao álcool, ao crime? O que possivelmente poderia estar tão errado na vida de um jovem? Salvo as raras exceções, não há resposta. Jovens mimados, mal-acostumados. Jovens vazios que se sentem vitimados por uma infelicidade que eles nem ao menos conhecem – apenas acreditam que sim. Eu não conheço a infelicidade e espero que você também não. Digo que o mundo é infeliz - ou acredita ser. Posso estar errada. Devo estar errada. Mas tudo isso é uma questão de valores. Quais são os seus?

Agradeço a minha grande amiga Melissa Castagnari – a inspiração deste post. Ela, geralmente, me fornece a coragem para enfrentar e questionar. E desta vez, de publicar. Obrigada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu agradeço você por agora me dar a oportunidade de questionar também! Agradeço todo seu amor e admiração, mas isso não vem ao caso agora ok?!rs

Quando postei minha experiência, confesso que a intenção não era nem criticar as pessoas que frequentam o lugar, e sim, como alguém cobra tais valores! Mas a repercussão foi essa, e digo que, agora penso, que a culpa de tudo isso é de quem se deixa explorar e pagar!
Não quero cair naquele clichê que todos já sabem e muitos comentaram no meu blog: status, sem noção, futil, filinho de papai, etc.
Quero dizer apenas uma coisa: a minha realidade não é essa e a realidade de mais de 2/3 do país também não é! Fico chocada de cada dia perceber mais o tamanho do abismo social que existe no país!Aí entramos no que você questiona: será que se os valores fossem outros, esse abismo existiria?!
Não sei, mas sei que agradeço pelos meus valores serem esses, e por ter pessoas em volta de mim que pensam da mesma forma! E penso que entre meus valores e a realidade não existe um abismo!
O resto, você já sabe no meu post!=P

Unknown disse...

As coisas são aquilo que queremos que elas sejam. Valor, valor é algo que inventamos.

O que mais me assusta não é ver uma guria gastando 900 reais numa balada, vivendo num país de miseráveis, mas é quando esta pessoa se vira contra a miséria e tem a audácia de se "indignar" com a violência e todos os outros problemas causados pela desigualdade social.

Vide o caso do Luciano Huck, na folha.

Às pessoas têm o direitos de viver em seu mundo de morfina - essa vida irreal frente a realidade - porém não podem reclamar de sofrer os impactos da realidade, mesmo estando em uma "Matrix". Um dia a vida gritará e toda essa destoante cidadã cairá em si.

Adorei, Dezinha ;-)