sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Frase do dia:

"You gotta quit waiting for something to happen and start doing something about it" - anonymous

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O cubo mágico

O dia quente ficou do lado de fora do prédio erguido no meio da Av. Nações Unidas. O ar-condicionado engana e desmente o termômetro que marca 32º C lá fora. Sentada à frente do meu computador, olho em volta e vejo o desespero de cerca de 20 mulheres em dia de fechamento da edição da revista. Tenho mil coisas para terminar até o fim do dia: biografias, crônicas, perfis (etc. etc.) que compõem as seções de cada mês e formam o recheio de um dos principais veículos de comunicação do país. Mas a tarefa mais importante é uma que tem consumido grande parte dos meus pensamentos: colocar no papel os principais gêneros literários para uma aula de sexta-feira. Como? O jornalismo tem mil faces e cores. Faces opostas, assimétricas e geométricas. Não faz sentido e reúne todos os sentidos do mundo. Sempre considerei o jornalismo literário o mais deleitoso estilo jornalístico, tanto que dediquei meu blog a essa forma livre e tão subjetiva da profissão. Um dos grandes prazeres da vida é a leitura; mas o maior é poder criar seu próprio texto embasado em uma bagagem rica, moldada pelo conhecimento literário que você reuniu durante a vida. O jornalismo literário permite que você costure seu texto da forma que quiser: com a linha do fantástico, a cor da verdade, os tons degradê do factual e o brilho da ironia. E, assim, é possível contar a mesma história com vozes, ênfases e intensidades diferentes.

As biografias são distantes; um relato quase neutro de algo que, por mais que envolva o autor, permanece sendo uma narrativa sobre outra pessoa, outra vida e outra realidade. A biografia começa onde a vida começa e caminha proporcionalmente ao crescimento do seu ‘objeto de estudo’. E deve caminhar com uma meta, sobre uma linha de veracidade e, principalmente, manter-se fiel ao factual. O trabalho é denso, requer debruçar-se sobre pilhas e pilhas de livros para dissecar toda uma trajetória. Para os menos minuciosos, um perfil basta. Um breve relato, não menos interessante ou verdadeiro, não necessariamente superficial, mas ainda lacônico o suficiente para pontuar os principais aspectos e acontecimentos sobre uma personalidade.

Ainda estou sentada na mesma posição. Pedi auxilio para algumas grandes jornalistas aqui da redação sobre a minha grande tarefa. Olhares perdidos e confusos. Quais são as principais diferenças e características entre esses gêneros? Além do tamanho e ponto de vista da matéria, não sei, Andrezza. Não, elas não conseguiram iluminar minha dúvida. Mesmo porque, quais são as principais diferenças? Na revista onde trabalho, publicamos perfis e histórias de vida sempre. As histórias contam de alguma situação específica ou, resumidamente, sobre as principais conquistas, acontecimentos, alegrias e tragédias da vida de alguém; ou seja, sua história. Já o perfil é mais focado, mais sucinto, e ainda carrega conteúdo.

Tá vendo? Eis o encanto do jornalismo literário. Não há como definir, como explicar a teoria. É subjetivo, inteligente. Mas a magia do jornalismo literário é sua maleabilidade, qualidade que confunde até mesmo os mais intelectuais. Jornalismo ou Literatura? Cabe a você decidir. Não, na verdade, cabe a mim. A responsabilidade de entregar uma, duas ou três laudas sobre esses tópicos, é minha. Espero que minha ignorância seja perdoada.

Crônica? Bem me lembro de algo que foi dito em sala de aula: não se ensina. É pessoal, fantasiosa talvez, provavelmente crítica e carrega alguns elementos que não estão presentes no jornalismo. Ainda que diferente, a crônica patina entre os extremos... Alguns até dizem que o cronista é um poeta do cotidiano. Quem sabe? Cada um sabe da sua e ponto final.

Meu TGI. Ou melhor, meu livro-reportagem. Isso tem me tirado o sono. Intenso, extenso e recheado de detalhes detalhadíssimos (perdoe minha redundância). Foge do jornalismo convencional, pois o tradicional não suporta sua amplitude superior. A liberdade deste gênero rasga os limites impostos e é atraído loucamente pela Literatura. O tema em foco é tratado com mais minúcia, mais carinho, mais atenção. É o ‘território’ das possibilidades: onde caprichar é possível, onde você trabalha sua criatividade exacerbada e dá asas potentes à reportagem. Onde você pode ir além, muito além. Falando em ir além, ainda preciso escrever a tal tarefa. Mas como? Como definir uma coletânea? Um grupo, uma série que também balança entre os extremos, uma compilação de textos que abordam o mesmo tema, um mesmo foco - ou não. Talvez, volumes que podem, também, tratar de assuntos diferentes sob um mesmo guarda-chuva.

Essa chuva de informações aliviou um pouco meu writer’s block. Agora, ainda sentada na mesma cadeira à frente do computador, não tenho mais 20 mulheres frenéticas ao meu redor. A maioria já foi pra casa; coisa que eu deveria ter feito há, pelo menos, 40 minutos. O calor lá de fora com certeza diminuiu, e aquele sopro gelado de fim da tarde pede um casaquinho. O céu já está escurecendo - definitivamente, o horário de verão acabou. Vou parar de perder tempo. Afinal, tenho muito trabalho pra fazer. Preciso me concentrar. Ainda nem comecei minha tarefa.

Enquanto isso, no Brasil... Ô abre alas!

Desta vez, passamos longe do tapete vermelho hollywoodiano. A 81ª edição do Oscar fica sem cinema brasileiro e sem graça. Confesso não ter assistido a todos os filmes indicados - mesmo porque, alguns ainda nem chegaram aqui! Mas antecipo minha curiosa impressão a respeito da adaptação da obra de F. Scott Fitzgerald às telas: merecia o prêmio de maior tédio na história do cinema. Antes do bombardeio de críticas, concordo de antemão: Benjamin Button reúne maravilhas como cenário, maquiagem, Brad Pitt e roteiro - afinal, estamos falando de um clássico. Mas insisto: ler o livro, além de mais rápido, teria proporcionado três horas bem mais deleitosas do que a canseira dada pelo diretor David Fincher. Hollywood atual: tentativas frustradas que agradam a maioria.

Mas vamos ao que interessa: enquanto isso, no Brasil, a crise financeira chegou de carro alegórico ao sambódromo! As escolas de samba se desdobram e rebolam para driblar a falta de verba para garantir a entrada glamorosa na avenida. Neste ano, a data mais animada - e talvez a mais esperada pelos brasileiros - não será somente ao som dos enredos carnavalescos: mais de 40 anos depois, as tradicionais ‘marchinhas’ voltam a fazer sucesso!

E o Brasil está nas mãos do PMDB com duas estrelas (de)cadentes à frente do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Sarney e Temer ficam no comando das casas e aquecem a disputa para 2010. E nem todos estão com essa bola toda: depois de 223 dias no Chelsea, o nosso técnico Felipão perdeu o cargo e deixou a equipe sem vencer um clássico sequer no campeonato.

Falando em sucesso, cheguei à conclusão de que a moda no Brasil é ditada pelas novelas de Glória Perez. Desde que a última estreou, haja incenso, cangas e audiência! À caráter, as pessoas seguem o caminhos das Índias pelas ruas do país! E o BBB é o ‘fracasso’ de maior ibope da TV brasileira. Há sete anos me pergunto o que o Pedro Bial faz lá. Um jornalista que, em seus dias de glória cobriu a queda do Muro de Berlim, hoje é pago (e muito bem) para colocar pseudo-celebridades no paredão! Quem te viu, quem te vê!

O que nos resta é o samba no pé, pois como já dizia Graciliano Ramos, “a única certeza do brasileiro é o Carnaval no próximo ano”.
Esta crônica foi publicada dia 16 de fevereiro, no jornal americano NOSSA GENTE, em sua 23ª edição. Jornal dedicado à comunidade brasileira que reside na Flórida - Estados Unidos. Faço parte do grupo de colaboradores do jornal e assino a coluna ENQUANTO ISSO NO BRASIL. Assim, aos poucos, vou me realizando. As realizações vêm aos poucos...e na medida certa.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Frase do dia:


Viva sua vida rindo dela e sorrindo nela

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

um eufemismo torto e uma metonímia azeda

E ontem ele bateu à minha porta. Jamais acreditei que o faria. Sempre esteve distante. Era certo que ele nunca teria coragem de se aproximar. Mas veio. E entrou. E agora? Faço sala? Ofereço um copo d’água? Algo mais forte, talvez. Arrisco um papo desagradável ou não digo? Não importa. Ele já entrou e se esparramou no sofá. Sente-se em casa e os pés estão em cima da mesa. E eu ainda nem fechei a porta - e não vou. Será que ele não demora? Mas demora. Recosta-se na almofada e fecha os olhos. Com a maior calma do mundo. Serenidade sua que briga com minha desesperada tentativa de expulsá-lo daqui. Levantou-se e caminhou rumo aos quartos - ao meu. Entrou. E lá, ficou. Está lá até agora; e eu não durmo mais. Invadiu meu sono. Levou minha calma. Medo? Tremendo. E depois? Roubou meu travesseiro e a cama ficou pequena para tanto. Ignorou minha (in)segurança. E o ontem ficou longe, da noite pro dia. E meu mundo caiu. Caiu durante uma xícara de chá. Quando ele bateu à porta. ‘Quem é?’: quase dilacerou o silêncio. Impronunciável. Ele. Cujo nome ninguém consegue dizer.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Entre uma e outra

Meu negócio é prosa. Poesias têm um poder sobrenatural de me irritar. A linha que traça esse limite é tênue; tão simples e discreta quanto uma vírgula mal colocada. O sentimentalismo cavalar e a sensibilidade exorbitante são opressivos. Pessoas que utilizam de elementos poéticos como uma estratégia “pseudo-intelectual exibicionista” são as piores. Intragáveis. Em seguida, diria que são aquelas que enxergam uma beleza indubitavelmente inexistente em coisas completamente livres de qualquer traço encantador. Pode ser que elas tenham uma força espiritual mais desenvolvida que a minha ou que tenham lido duas ou três peças shakespearianas das quais nada entenderam. As possibilidades são infinitas. E a prosa não caminha entrelinhas - ela dança descomunalmente.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

E arde

Que aperto no peito. A angústia não vai embora. Fica, espreme, sufoca. Às vezes ensaio uma respiração profunda que alivia brevemente. Mas aí, logo volta. Hoje eu acordei serena e com bom humor, mas isso é de praxe. Mas, para combinar, o doloroso contraste da sauna que sinto arder dentro de mim. Imagino - pois já nem me lembro bem - que o dia anterior tenha sido ruim. Se não, difícil. Conturbado. Meus olhos inchados com certeza transparecem isso. Minha dor de cabeça voltou. Há tempos ela havia desistido de mim. Mas sentiu saudade. Talvez eu também. Assim tenho uma ótima desculpa para não falar demais, me fechar num canto. E o aperto não passa. Quando isso acontece, tento desabafar; encontrar uma forma de canalizar a confusão. Mas desta vez, não funcionou. Há, pelo menos, vinte pessoas ao meu redor e as vozes estão longe, ecoando um blá, blá, blá surreal. De novo, forcei uma respiração profunda. Fica cada vez mais difícil pegar ar. Impressão minha, meu coração está pesado. Não consigo pensar em nada. Criatividade zero. Nenhuma palavra combina, nenhuma idéia é boa o suficiente para ser discutida. Minha vontade é nula. Paciência também. As linhas continuam e respiro com mais e mais anseio. Sabe quando você se pega olhando pro nada e nem imagina há tempo ficou fora do ar? Pois é. Mas a diferença é que eu sei. Fiquei fora tempo demais.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Frase do dia:

“Finish each day and be done with it. You have done what you could. Some blunders and absurdities no doubt crept in, forget them as soon as you can. Tomorrow is a new day, you shall begin it well and serenely...” Ralph Waldo Emerson

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O castigo veste branco

(desabafo miscelânia na madrugada...)
Fiquei internada por uma semana. Dias nada fáceis, muito menos as noites. O vai e vem infernal de enfermeiras, enfermeiros, médicas e médicos que interrompem um sono que nem existe com o entra e sai de agulha, soro e remédio. Cinco dias dormindo de barriga pra cima com os braços estendidos fazem você querer dormir para o resto da sua vida de barriga pra baixo e com a mão debaixo do travesseiro. Minha maior alegria era o ar-condicionado, que logo perdi, pois minha mãe insistia em aumentar a temperatura. Algumas coisas mudaram desde então... Por exemplo: sempre gostei muito de sopas mas depois do meu castigo, se tornaram intragáveis. Não bebo, não como gelatina ou tomo banho usando chinelos. A semana também serviu para eu me atualizar nas futilidades da Rede Globo. Comecei a ver a nova novela (e parei logo que recebi alta) e acompanhei o fuzuê que é esse BBB. Tenho a leve impressão que o programa ficou emperiquitado demais, repleto de baboseiras ampliadas e pioradas (mas admito que ainda dou aquela ‘espiadinha’ discreta quando passo pela sala de TV). Os hospitais me cansam e eu, definitivamente, não combino com eles. Eu nunca tinha sido internada antes e não recomendo. Em alguns momentos, a única forma de manter minha sanidade era andar pra lá e pra cá. Me senti a pessoa mais debilitada da face da terra – até dar uma voltinha pelos corredores. Ao mesmo tempo em que é deprimente, a esperança que você enxerga ao zigue-zaguear por alguns minutos em outros andares, faz com que você se sinta melhor. Infelizmente.

Uma tarde em que eu me vi livre do soro por alguns minutos, não pensei duas vezes e fui rondar o hospital. Fugindo um pouco do campo de visão dos meus enfermeiros, comprei um sorvete de limão e fui me sentar num sofá perto da janela. Há quanto tempo eu não via a rua, as pessoas, os carros... O sol! Mentira, não tinha sol... Mas o dia! A luz do dia! Nos cinco minutos de êxtase profundo, conheci uma garotinha de apenas cinco anos que tinha sido operada e acabado de sair de um coma. Mas ela estava tão entretida com suas bolhas de sabão e tão feliz quando contei a ela que era só colocar mais shampoo (já que não tem detergente em hospitais) pra fazer mais e mais bolhas, que era como se nada tivesse acontecido. Ela soprava e soprava naquele aro de plástico com uma inocência quase inacreditável. O mundo era perfeito e colorido. Muitas vezes é bom levar um susto pra engrenar na pista certa. E aí, quando isso acontecer, soprar umas bolhas de sabão será o seu convite à mudança. Ficar uns dias longe da minha vida me deu mais fôlego. Naquela tarde, voltei pro meu quarto mais feliz e paciente. Dormi em paz... Sabia que logo eu sairia de lá.
(pronto. agora posso voltar a dormir. precisava soltar um pouco, aliviar minha mente. nada melhor que escrever baboseiras pra distrair e distanciar as preocupações. boa noite.)