terça-feira, 9 de outubro de 2007

Auto

Com o passar dos dias, as coisas deveriam ficar mais fáceis. Mas não ficam. A cada dia, fica mais longe o que poderia chamar de tranqüilidade. De resolução. De completo. Dizem que o tempo é o melhor remédio e eu concordo. Mas é um remédio homeopático. Custa a passar a angústia. Custa a aliviar o sentimento de pressa, de aperto e de desespero. Eu mesma não sei como. Não tenho paciência com o tempo. E paciência é a única condição que ele impõe; a única súplica que ele faz. O tempo cura, mas a arma que mais fere está sempre com você, dentro de você. A sua consciência zomba da sua ingenuidade, das suas atitudes e não cansa de criticar, pressionar e machucar. “Não importa aonde você vá, você sempre estará lá”. O engraçado é que vivemos a vida inteira tentando provar aos outros nossos valores, nossa competência, nosso amor, nossa dedicação, nossa fidelidade, nossa honestidade, nossa fé e nossa verdade. Vivemos toda a vida tentando provar quem somos. Pra quem? Esquecemos que quem precisa de provas constantes, de pedidos de perdão e de tudo que passamos a vida inteira tentando mostrar, somos nós mesmos. Aceitar que os nossos valores muitas vezes são falhos; que não somos tão competentes quanto achamos; que o nosso amor é abalado mesmo que verdadeiro; que a nossa dedicação é escassa e deixa a desejar; que a nossa fidelidade pode fraquejar; nossa honestidade nem sempre tão honesta assim; que a nossa fé é duvidosa; e que nossa verdade não passa de uma grande mentira. Queira amor, mas também ame. Ande ao lado de alguém, mas queira estar lá. Decida, mas não demore, pois podem decidir por você. Seja feliz, mas faça alguém feliz também. Abrace, cuide e apóie. Segure, proteja e sinta. Seja o travesseiro de alguém, ou o cobertor, mas não abra mão do seu conforto e do seu calor. Peça perdão, mas também perdoe. Perdoe a si mesmo pelos erros cometidos, pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Aceite e se perdoe. Viva em paz. E deseje que alguém, aquele alguém, viva nesta paz com você.

Desculpem-me: Precisava dizer tudo isso. Pra mim mesma.

Um comentário:

Anônimo disse...

de,
lindo o que vc escreveu.
é muito curioso ler os seus poemas em forma de prosa... a vida reduzida ao papel. é curioso porque nas suas palavras eu me encontro.. encontro a paz, a nostalgia, a vida que muitas vezes passa despercebida por mim, aquela "saudade que neu sinto de tudo que eu ainda não vi", mas que mal posso esperar para conhecer. E principalmente porque enxergo a vida através dos olhos da minha irmã; vc me lembra de coisas q eu eu nunca esqueci, mas que ficaram ausentes do meu consciente por um tempo... vc me inspira e me ensina e eu aprendo, mesmo que seja pela milésima vez e eu já saiba de tudo. Eu aprendo. Tudo de novo. A sua escrita me transforma no que sou, no "eu" que arde e flameja e pede pra ser reconhecido. E não há sentimento mais gratificante do que estar em paz com o encontro de sí. =) I can't even begin to thank you. Keep on writing.