segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Rádios Comunitárias: A voz de um povo calado

Dizem que o Rádio é apaixonante. Alguns dizem que vicia. Não acreditava - até trabalhar na área. O meio de comunicação mais veloz na mídia atinge públicos de todas as idades de forma imediata. A Internet tem o papel de absorver tudo – tudo migra para a Internet, e com o Rádio não foi diferente. Grandes emissoras como Rádio Globo, CBN, Rádio Record, Metropolitana e Jovem Pan adaptaram-se à Internet, abrindo seus leques de oportunidades. Expandiram seu público e supriram as necessidades tão volúveis do público. Inseriram suas programações na web e facilitaram o acesso.

Um tema atual que tem gerado grande polêmica na mídia são as rádios comunitárias, conhecidas também como “rádcoms”. Mas como essas rádios se inserem na tecnologia dos dias atuais? O grande foco das mesmas é a comunidade. A inserção pública é um dos desafios que deve ser enfrentados. O espaço público é injusto, é desigual e as rádios comunitárias foram criadas para superar estas diferenças. Há participação popular, há luta pela cidadania e igualdade. Geralmente, os locutores e comentaristas das rádios comunitárias são os próprios moradores da comunidade, o que traz proximidade ao público, identificação. A população encontra nestes radialistas, traços semelhantes aos dele. Isto traz conforto e, acima de tudo, traz voz aos reprimidos e calados.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie promoveu palestras sobre Rádio e Cidadania na Semana de Comunicação. Os apaixonados por Rádio, Luciano Maluly e Gisele Sayeg da Universidade de São Paulo, e Márcia Detoni da Universidade Presbiteriana Mackenzie, participaram do evento e ilustraram o tema para os alunos participantes. As palestras, obviamente, trataram do mesmo assunto: rádios comunitárias. Cada palestrante com seu foco e visão sobre o tema. Porém, uma opinião foi unânime: as rádios comunitárias são instrumentos de acesso da comunidade ao meio de comunicação e informação. As “rádios do povo” enfrentam ampla concorrência das grandes mídias. Elas são ameaçadas por emissoras de grande porte: disputam audiência, credibilidade e legalidade. A jornalista Márcia Detoni nos trouxe a informação de que existem 10 mil rádios clandestinas no país, superando as quatro mil rádios legalizadas. Mesmo clandestina, a Rádio Heliópolis, por exemplo, presta serviços à comunidade e realiza um trabalho profissional e sério. Apenas não recebeu a autorização para desempenhar seu trabalho de forma legal. Rádios comunitárias, como esta, funcionam como qualquer outra rádio: com programas musicais, programas jornalísticos (na maioria das vezes, programas de baixo-teor jornalístico) e prestação de serviço (por exemplo, caso algum morador da comunidade perca algum documento e o mesmo for encontrado, os locutores anunciam na rádio). Muitas “rádcoms” oferecem programas religiosos, suprindo uma necessidade grande da comunidade. Elas aproximam o povo e proporcionam espaço e voz.
Luciano Maluly apresentou o “Legado de Roquette-Pinto”. A herança do pai da radiofusão no Brasil é aproveitada até hoje. Edgar Roquette-Pinto, devido a sua persistência, implantou e dirigiu a primeira rádio do país: Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923. Ele convenceu a Academia Brasileira de Ciências a comprar os equipamentos radiofônicos depois de uma feira internacional, onde os americanos introduziram e testaram a tecnologia radiofônica no pico do Corcovado, no Rio de Janeiro. A primeira transmissão de rádio foi do então presidente Epitácio Pessoa. Encantado com este novo veículo, Roquette-Pinto enxergou o futuro: confiou e presenteou o Brasil com o veículo de comunicação mais rápido e eficaz da história. Sua primeira reação foi "Eis uma máquina importante para educar nosso povo" – e ele tinha razão. Por muito tempo, o Rádio foi o principal responsável pelo entretenimento e educação do povo brasileiro. Muitas pessoas ainda preservam o Rádio como seu melhor amigo, seu companheiro de todas as horas. Outras pessoas, abandonaram este veículo por outras mídias, como televisão e Internet. O Rádio é a reprodução de conteúdo - ou deveria ser. Luciano Maluly acredita que o Rádio hoje em dia é uma reprodução da Internet: os locutores imprimem notas e as lêem no ar, sem interpretação. Ele diz que não há como interpretar 60 informações em 20 minutos e com isso, não há interação com o ouvinte. Todos os convidados presentes concordaram que é necessário reproduzir o momento, reproduzir o cotidiano. Os jornalistas de rádio precisam melhorar a comunicação e precisam falar. O legado de Roquette-Pinto deixa claro que devemos ampliar o conhecimento e o rádio deve ser usado justamente para isso.

A Internet absorveu tudo que havia ao seu redor: inclusive o Rádio. Ele migrou para a Internet e teve que adaptar-se às novas tecnologias. A palestrante Márcia Detoni acredita que a Internet é a redescoberta do Rádio. Uma oportunidade para valorizar e ampliar o acesso à informação. Com as rádios comunitárias, há uma missão a ser cumprida: democratizar as comunidades. E com estas rádios, os deveres e direitos ficarão claros e darão acesso democrático às informaçõs. Em um país onde apenas 10% da população vive com uma renda familiar acima de três mil reais, é necessário que haja uma mídia que exerça um papel social e as “rádcoms” fazem exatamente isso. Na África e Ásia, por exemplo, as rádio comunitárias são fundamentais para a população em níveis sociais e educacionais. Novamente, o objetivo destas rádios é a consipação das diferenças. Elas não surgiram para tomar o lugar das rádios comerciais, mas sim, para somar a elas. Assim, a democratização será mais fácil e possível.

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