segunda-feira, 31 de março de 2008

Filho

Recentemente, a história de uma mulher me comoveu. Seu filho se envolveu com drogas e hoje tanto a vida dele, como a dessa mãe, estão destruídas. Sei que ela não é a única. Histórias assim se repetem a cada dia e, por isso, escrevi essa carta baseada em como essa mulher me fez sentir. Não sou mãe, mas em casos como esse, eles são meus filhos também

Querido filho,

Me preocupo com você. Minhas palavras foram em vão. Admito, não sei muito mais do que você, mas o que sei, lhe faria bem. Me preocupo com você, querido amigo. Os conselhos que te dei somente me tiraram o fôlego e me secaram a saliva, seus ouvidos foram fechados para mim. Me preocupo com você por eu ser agora tão insignificante quando você julga o que é melhor para a sua vida. Me desespero ao ver as coisas das quais você abriu mão, quando vejo o que você tem feito consigo mesmo. Meu filho, meu amigo: estenda sua mão, permita que eu lhe puxe para perto de mim. O que sei sobre essa vida repentina, não chega perto de sua verdade, mas apagaria as suas mentiras. Me preocupa conhecer sua obscuridade, sua falta de sede de vida. Me dói ver o quão fundo você chegou sem olhar para trás, sem luz. Querido amigo, de mim você tomou o leite, levou a alma e ao final de tantos e tantos dias, fui seu aconchego. Hoje não tenho peso, ou voz, não tenho mais o calor que calentava o seu sossego. Diga-me o motivo de sua repente espalda... Onde foi que eu errei? Lhe abandonei? Qual gesto, briga ou palavra fez você deixar de confiar em mim? Cheio de vida, movido pela som da vida e do seu ritmo, hoje tem olhos mareados, desencontrados, olhos que esperneiam por atenção.

Querido filho, me preocupo com você. Os estudos, você deixou de lado; suas paixões foram esquecidas junto com tudo que você jurou lembrar para o resto da vida. Já não posso dizer que foram os amigos ou as companhias - hoje sei que é você o seu maior inimigo. Seu corpo já nem está tão bonito, já amarelou, perdeu a leve luz do sol espelhada na sua pele. Quando foi que te perdi? Perdoe-me, não enxergo. Trabalhei demais? Lhe deixei solto demais? Confiei na criação que lhe dei e entreguei você para o mundo. Não fui a melhor mãe, claro que não. Mas não perdi um jogo seu, não deixei de comemorar uma vitória sua. Você, tão pequeno, cheio de curiosidades e sonhos... Quando foi que você cresceu? Eu não vi.

Parece que já não vivemos na mesma casa mas, ainda, seu quarto está ao lado do meu. Você já é um homem, mas perdi a conta de quantas noites passei sentada ao seu lado, olhando você dormir. Engraçado, você ainda dorme de bruços. Hoje você tem barba no rosto, pele áspera e chega em casa depois do sol. Mesmo assim, só lhe reconheço quando você dorme. A serenidade não enfeita mais o seu rostinho, mas filho, você ainda dorme do mesmo jeito. Meu pequeno, você ainda dorme de bruços. E é assim, vendo você dormir que lhe mantenho presente na minha vida. É durante o seu sono, sem sonhos, que te conto do meu dia. Minhas preces não perderam força mas minhas forças é que enfraqueceram, perdidas em minhas preces. Querido filho, é quando você dorme que tenho a certeza de que você está vivo... E isso somente porque sinto e ouço o seu respirar. Porque em qualquer outro aspecto de sua vida e do seu dia, seu coração já esqueceu de bater. E o meu também.

2 comentários:

Mohamad disse...

muito bom... emocionante, um dos melhores q vc ja escreveu.

mto bom mesmo!!!

bjos

Unknown disse...

andrezza que texto maravilhosooooooooo.....como disse o moh poderiamos dizer que é um dos melhores que vc já escrevu....me emocionei confesso.....vc se portou como mãe neste momento sem ter gerado um filho...mas presente como mãe..isso é fantástico...imagino como será qdo realmente tiver neste estado maravilhoso que é ser MÃE....parabéns mais uma vez.....

mil beijos