acreditar nisso. Confiem: já tentei. Desde que me conheço por gente, ensaio malabarismos admiráveis para driblar e confundir a minha mente. Já fiz mil promessas para o meu coração e para minha alma; promessas tão convincentes que cheguei a acreditar na minha própria mentira. Jurei que daria uma chance ao amor. De pés juntos, que permitiria a entrada da felicidade. Bom, é claro que quebrei todos os juramentos, preces e comprometimentos comigo mesma. A verdade é que, desde sempre, mesmo que inconscientemente, boicoto o que é promissor em minha vida afetiva. Encontro defeitos, invento problemas, incentivo minha louca racionalização e construo graves generalizações. Por medo? Não, não, não. Fujo do padrão que sempre segui em minha vida, da repetição de acontecimentos frustrantes e tento escapar das possíveis semelhanças que vejo serem instaladas em cada um dos meus relacionamentos. Pensando melhor, talvez seja por medo, sim. De quê? Ah, não respondo perguntas difíceis (é por isso que vamos à terapia e, justamente pelo mesmo motivo, desistimos dela quando percebemos quantas perguntas a mais surgiram em nossas vidas desde que começamos a questioná-la). Admito: sigo um padrão quando o assunto é ‘escolha amorosa’. Confesso que antes mesmo de iniciar um relacionamento, já penso em como será o dia em que eu tiver que dá-lo por encerrado. Elejo pessoas que, lá no fundo, sei que não servem para mim e que, eventualmente, sairão da minha vida. Aliás, só me envolvo com homens com os quais tenho certeza que não vai dar Dessa vez, achei que realmente pudesse ser diferente. Ele não é viciado em drogas, não bebe ou fuma, não ultrapassa o limite de velocidade e abre a porta do carro. Um cara bacana, médico, bonito, viajado e culto. E aí, penso: qual será o grave defeito? Provavelmente, nada de outro mundo. Talvez ele não recicle, ronque, goste demais de futebol ou fale alguns palavrões de vez
Um belo dia, quando a pessoa certa finalmente aparecer, fugiremos dos conselhos de Clarice Lispector e não estaremos distraídas o suficiente para relevar os pequenos pecados, as sutis diferenças. Estaremos atentas e sem expectativa. O pobre coitado não terá uma sombra de chance. Talvez, ele nem seja a pessoa certa (e não precisa ser); apenas uma alegria para os finais de semana e para as carências dominicais. Quiçá, uma agradável companhia para tomar um café numa tarde fria ou uma mão a ser trançada durante uma sessão de cinema. A verdade é que morremos de medo de amar. E assim, vendamos nossos olhos e distanciamos qualquer fração de sentimento. Por medo. Por medo de perceber que, talvez, dessa vez, poderia ser sim, diferente.