

Continuo a postagem ao meu querido e prudente leitor: Pagar R$ 80 para estar em um ambiente "bem freqüentado" (e deixo claro que isto é relativo) já não parecia tamanho absurdo. Porém, quero que você entenda que R$ 80 reais perto de R$ 740 ainda são R$ 80 (vou ignorar os R$ 900, pois gastar esse valor em uma "balada" já é palhaçada. Por favor, consumir R$ 740 também está fora da realidade, mas tenho que manter algum exemplo). Não quero que você, caro leitor, dê menos importância aos R$ 80, somente por ser tão mais baixo. Enfim, não vou usar o velho argumento de que não se devem gastar quase mil reais em tamanha futilidade enquanto o nosso país padece na miséria – isto, todos sabem. Vou discutir valores. Na verdade, vou questionar e perguntar a você: aonde foram os valores? Primeiramente, quem gasta tudo isso em uma "balada", rico não é. E isso, eu lhe garanto. Certamente, é um "novo rico". Alguém que não sabe o valor do dinheiro e a dificuldade que é mantê-lo. Porque conseguir, convenhamos: qualquer um consegue. Manter é outra história. Para quem não sabe, dinheiro não aceita desaforo e dinheiro não nasce em árvore – isto pode ficar cansativo, porém repito: valores. Quem quer impressionar, quem quer fazer parte de um novo grupo, no qual na verdade não pertence, gasta mesmo. E gasta com um sorriso no rosto. Gasta com orgulho de ter desembolsado quase três salários mínimos. E é aí que vemos a diferença de apego, vemos como o “importante” para um é diferente do “importante” para o outro. Como que uma pessoa pode ser tão burra a ponto de se humilhar desta maneira? Humilhar, sim! Como minha amiga disse em seu post, pagar o valor cobrado nestas casas noturnas é denominar-se um idiota. Pagar R$ 15 em uma cerveja enquanto uma caixa (da mais cara) no supermercado (do mais caro) não passa dos mesmos R$ 15, é burrice. Beira a ignorância. Acreditem, já estive nesta boate onde minha amiga presenciou tal absurdo social e nunca mais voltei (valores pessoais). Ir de vez em quando, dar-se ao luxo de vez em quando, não tem problema algum. Não julgo, mesmo porque, gosto de freqüentar locais que "estão na moda". Agora eu gostaria de saber somente uma coisa: quantas pessoas, das que estão lá, pagam a conta com o próprio dinheiro? Gostaria de perguntar à jovem que gastou R$ 740 ou à jovem que gastou R$ 900, de onde veio o dinheiro delas? Do próprio bolso? Da própria conta? Na maioria dos casos, dou-lhe a certeza que o dinheiro vem dos pais. O que é bem pior: além de não terem a mínima noção financeira, não respeitam o dinheiro da própria família e nem ao menos sustentam a própria futilidade. São adolescentes (pois não ouso nem me referir a eles como adultos) sem a mínima responsabilidade. Adolescentes mal-acostumados que têm a inteligência gozada cada vez que desembolsam valores horrendos com um sorriso no rosto. Acredito que se a situação fosse inversa, se o dinheiro pertencesse a elas e outra pessoa o tivesse esbanjando, não seria tão engraçado assim. (Você vai dizer que cada um gasta o seu dinheiro como bem entende. Se a pessoa tem mil reais para gastar em energético, em garrafa de uísque e camarote, por que não gastar? Novamente: uma questão de valores). Mas como gosto de dizer, a culpa não é da fonte. A culpa é de quem bebe dela. Ou seja, não devemos julgar e condenar essas boates que exploram seus clientes; devemos condenar quem paga para ser extorquido dessa maneira. O exemplo que gosto de usar é o seguinte: devemos atribuir o problema do tráfico de drogas aos traficantes? Não. Deveríamos atribuir tal violência aos consumidores. Quem fuma um baseadinho, cheira cocaína ou qualquer outra coisa que esse pessoal usa para chamar a atenção, são os verdadeiros culpados pelo tráfico. Eles financiam a maior violência deste país – e do mundo. Pode encher a boca e me chamar de careta ou do que for mais conveniente. É a mais pura verdade. Então, a conclusão que chego é a seguinte: o motivo pelo qual essas baladas cobram o valor que cobram é simples: tem quem pague. Famosa lei da oferta e da demanda. Mas até aí, estamos tratando apenas de valores. Penso que, talvez, os meus estejam invertidos. Prefiro acreditar que não. Mas, quem sabe? Não quero que meus filhos financiem o tráfico, não quero que os meus filhos gastem o sustento de uma família inteira em caipirinhas, em energéticos ou em lugares caros somente para se sentirem aceitos. É pedir demais? Porque, na verdade, minha grande indagação, a maior das minhas perguntas e talvez, a verdadeira charada dos tempos de hoje é: o que faz um jovem tão infeliz a ponto de recorrer às drogas, às futilidades, ao álcool, ao crime? O que possivelmente poderia estar tão errado na vida de um jovem? Salvo as raras exceções, não há resposta. Jovens mimados, mal-acostumados. Jovens vazios que se sentem vitimados por uma infelicidade que eles nem ao menos conhecem – apenas acreditam que sim. Eu não conheço a infelicidade e espero que você também não. Digo que o mundo é infeliz - ou acredita ser. Posso estar errada. Devo estar errada. Mas tudo isso é uma questão de valores. Quais são os seus?
Agradeço a minha grande amiga Melissa Castagnari – a inspiração deste post. Ela, geralmente, me fornece a coragem para enfrentar e questionar. E desta vez, de publicar. Obrigada.
2 comentários:
Eu agradeço você por agora me dar a oportunidade de questionar também! Agradeço todo seu amor e admiração, mas isso não vem ao caso agora ok?!rs
Quando postei minha experiência, confesso que a intenção não era nem criticar as pessoas que frequentam o lugar, e sim, como alguém cobra tais valores! Mas a repercussão foi essa, e digo que, agora penso, que a culpa de tudo isso é de quem se deixa explorar e pagar!
Não quero cair naquele clichê que todos já sabem e muitos comentaram no meu blog: status, sem noção, futil, filinho de papai, etc.
Quero dizer apenas uma coisa: a minha realidade não é essa e a realidade de mais de 2/3 do país também não é! Fico chocada de cada dia perceber mais o tamanho do abismo social que existe no país!Aí entramos no que você questiona: será que se os valores fossem outros, esse abismo existiria?!
Não sei, mas sei que agradeço pelos meus valores serem esses, e por ter pessoas em volta de mim que pensam da mesma forma! E penso que entre meus valores e a realidade não existe um abismo!
O resto, você já sabe no meu post!=P
As coisas são aquilo que queremos que elas sejam. Valor, valor é algo que inventamos.
O que mais me assusta não é ver uma guria gastando 900 reais numa balada, vivendo num país de miseráveis, mas é quando esta pessoa se vira contra a miséria e tem a audácia de se "indignar" com a violência e todos os outros problemas causados pela desigualdade social.
Vide o caso do Luciano Huck, na folha.
Às pessoas têm o direitos de viver em seu mundo de morfina - essa vida irreal frente a realidade - porém não podem reclamar de sofrer os impactos da realidade, mesmo estando em uma "Matrix". Um dia a vida gritará e toda essa destoante cidadã cairá em si.
Adorei, Dezinha ;-)
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