terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O castigo veste branco

(desabafo miscelânia na madrugada...)
Fiquei internada por uma semana. Dias nada fáceis, muito menos as noites. O vai e vem infernal de enfermeiras, enfermeiros, médicas e médicos que interrompem um sono que nem existe com o entra e sai de agulha, soro e remédio. Cinco dias dormindo de barriga pra cima com os braços estendidos fazem você querer dormir para o resto da sua vida de barriga pra baixo e com a mão debaixo do travesseiro. Minha maior alegria era o ar-condicionado, que logo perdi, pois minha mãe insistia em aumentar a temperatura. Algumas coisas mudaram desde então... Por exemplo: sempre gostei muito de sopas mas depois do meu castigo, se tornaram intragáveis. Não bebo, não como gelatina ou tomo banho usando chinelos. A semana também serviu para eu me atualizar nas futilidades da Rede Globo. Comecei a ver a nova novela (e parei logo que recebi alta) e acompanhei o fuzuê que é esse BBB. Tenho a leve impressão que o programa ficou emperiquitado demais, repleto de baboseiras ampliadas e pioradas (mas admito que ainda dou aquela ‘espiadinha’ discreta quando passo pela sala de TV). Os hospitais me cansam e eu, definitivamente, não combino com eles. Eu nunca tinha sido internada antes e não recomendo. Em alguns momentos, a única forma de manter minha sanidade era andar pra lá e pra cá. Me senti a pessoa mais debilitada da face da terra – até dar uma voltinha pelos corredores. Ao mesmo tempo em que é deprimente, a esperança que você enxerga ao zigue-zaguear por alguns minutos em outros andares, faz com que você se sinta melhor. Infelizmente.

Uma tarde em que eu me vi livre do soro por alguns minutos, não pensei duas vezes e fui rondar o hospital. Fugindo um pouco do campo de visão dos meus enfermeiros, comprei um sorvete de limão e fui me sentar num sofá perto da janela. Há quanto tempo eu não via a rua, as pessoas, os carros... O sol! Mentira, não tinha sol... Mas o dia! A luz do dia! Nos cinco minutos de êxtase profundo, conheci uma garotinha de apenas cinco anos que tinha sido operada e acabado de sair de um coma. Mas ela estava tão entretida com suas bolhas de sabão e tão feliz quando contei a ela que era só colocar mais shampoo (já que não tem detergente em hospitais) pra fazer mais e mais bolhas, que era como se nada tivesse acontecido. Ela soprava e soprava naquele aro de plástico com uma inocência quase inacreditável. O mundo era perfeito e colorido. Muitas vezes é bom levar um susto pra engrenar na pista certa. E aí, quando isso acontecer, soprar umas bolhas de sabão será o seu convite à mudança. Ficar uns dias longe da minha vida me deu mais fôlego. Naquela tarde, voltei pro meu quarto mais feliz e paciente. Dormi em paz... Sabia que logo eu sairia de lá.
(pronto. agora posso voltar a dormir. precisava soltar um pouco, aliviar minha mente. nada melhor que escrever baboseiras pra distrair e distanciar as preocupações. boa noite.)

Um comentário:

Adriana Sandoval disse...

Nossa...
Eu quase pude ouvir a sua voz falando "Mentira, não tinha sol"... FOI PEGA! hahahahaha

Gostei muito do seu texto, Dê! Sempre que dá entro aqui! Vc tá linkada no mue novissimo blog!

Beijissimos